terça-feira, 20 de outubro de 2009

A luta

A ideia em desenvolver esse blog veio a partir do contato que iniciei com as ideias da Mara Gabrilli, por isso nada melhor para exemplificar o conceito de diversidade que ela coloca...Assim, vou aproveitar esse texto dela e complementar essa luta pelo resgate da sensibilidade para desenvolvermos uma sociedade aberta ao conceito de acessibilidade.

Por que a deficiência incomoda?


Notícias

Qui, 23 de Julho de 2009 23:47

A indiferença e o olhar alheio de quem não quer enxergar.

Matéria publicada na revista Sentidos.

Já ouvi muitas vezes as pessoas comentarem sobre a minha beleza. Algumas fi cam surpresas pelo fato de eu não mexer um músculo do pescoço para baixo, e mesmo assim, ser bonita. “Como pode uma mulher assim estar em uma cadeira de rodas”? Nestas horas só consigo me perguntar qual o conceito de beleza que estas pessoas têm diante daqueles que possuem uma defi ciência. Em um mundo que cultua o belo, me parece que a cada dia as pessoas estão perdendo a consciência do que realmente signifi ca bonito. Digo isto porque há décadas milhares de pessoas com defi ciência vêm tentando derrubar um muro intangível, porém quase intransponível: o preconceito.

Recentemente, uma pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) apontou que 96,5% dos entrevistados têm preconceito com relação à pessoa com defi ciência. Isto não signifi ca apenas uma quantidade alarmante de cidadãos preconceituosos, mostra também o quão somos e fomos treinados para conviver com o “normal”. O mais triste de tudo é que esta cultura do politicamente padronizado atinge as escolas, o ambiente de trabalho, lazer e todo e qualquer ambiente que uma pessoa com defi ciência venha a frequentar. São olhares de condolência, de surpresa, aversão e, algumas vezes, o não olhar. Ele é o bichinho que incomoda quem não quer sair do clã da normalidade.

Fico me perguntando: “O que faz uma pessoa incomo-dar o outro pelo fato de ter uma diferença física, racial ou social”? Desde que sofri o acidente que me deixou tetra-plégica continuo sendo a mesma pessoa. A minha essên-cia não mudou. O que faria então, o olhar do outro diante de mim ser diferente? Estar em uma cadeira de rodas, ao contrário do que muitos pensam, não me faz ser outra Mara. Torna-me apenas uma pessoa que requer recursos diferentes de quem tem os movimentos. Uma Mara de rodas. Apenas. E isso serve para o cego, o surdo ou qual-quer pessoa com uma determinada defi ciência. Ponto.

Conviver com as defi ciências não requer aprendizado teó-rico, nem curso de especialização. É necessário apenas algo que todos nós temos quando nascemos, mas com o tempo vamos perdendo, a sensibilidade. É ela que dita o quão gra-tifi cante pode ser uma companhia que foge às regras do comum. Sentir a necessidade do outro e admitir que também temos a nossa, independente da condição física, é engrande-cedor. Tornamos-nos realmente humanos, pois é a partir daí que usamos todos os nossos sentidos. Desta forma, percebe-mos o outro na sua essência e não no seu invólucro.

Quem dera se em todos os momentos de nossa vida, pudéssemos ver e ensinar para quem não entende, ainda, o que é conviver com o inusitado. Seriam saberes e sabores diferentes. Idades e formas de viver diversifi cadas. Entre pernas e rodas, formas e cores, me sentiria na bagunça mais harmoniosa que pode existir. Uma confusão maravi-lhosa: a diversidade. Nela os olhares se trocam e se enxer-gam de verdade.



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